quinta-feira, 15 de novembro de 2007

PM entra na PUC-SP e desocupa a reitoria



Após 30 anos do episódio de brutal repressão durante a ditadura militar no campus Monte Alegre da PUC-SP, polícia volta à universidade contra os estudantes; desta vez, chamada pela própria reitoria.



Luciana Candido, da redação, e Rodolfo Vaz, direto da PUC-SP

• Por volta de 2h40 da madrugada deste sábado, 10 de novembro, a Tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo entrou no campus Monte Alegre da Pontifícia Universidade Católica e, valendo-se de uma liminar de reintegração de posse, retirou os cerca de 250 estudantes que se encontravam na reitoria. Os alunos ocuparam a direção da PUC na última segunda-feira, 5, em protesto ao Redesenho Institucional, que precariza o ensino na universidade.

A operação contou com mais de 100 homens fortemente armados. Eles cercaram o campus e entraram pelos dois acessos à universidade para evitar fugas. Os policiais invadiram todas as salas, retirando os alunos e agrupando-os no salão. Após a leitura da ordem judicial, o coronel que comandava a operação ofereceu duas alternativas aos estudantes: sair pacificamente ou resistir. Nesse último caso, informou que seria usada toda a força necessária, como previsto na ordem judicial, que inclusive autorizava a ação para dias não-úteis.

Os estudantes saíram pacificamente, sendo liberados após o registro do nome e do RG pela polícia. Um cerco policial bloqueava as ruas de acesso à universidade. Essa tem sido, infelizmente, uma prática que se torna cada vez mais comum nas universidades brasileiras: a polícia começa a fazer parte dos cenários, chamada pelas próprias administrações para reprimir estudantes. Foi assim na Fundação Santo André (SP) e em tantas outras.

Repressão não conseguiu desmobilizar os estudantes
A ação da reitoria junto à Justiça e à PM não desmobilizou o movimento estudantil. Pelo contrário, os alunos permaneceram em frente ao prédio após a retirada pela polícia, cantando palavras-de-ordem contra a reitoria e contra o Redesenho. “Maura, mas quem diria / em 2007 é Erasmo Dias” e “Eu ocupei a reitoria / educação não é mercadoria” foram algumas delas. Erasmo Dias foi o secretário de segurança que comandou a repressão em 1977 ao mesmo campus da PUC.

Os presentes se mostraram furiosos com a ação da reitora, Maura Pardini Bicudo Véras, principalmente porque, de forma cínica, a direção da universidade fez uma série de eventos em lembrança aos 30 anos da invasão pela ditadura. Nas atividades, Maura chegou a dizer que “a polícia só entraria na PUC novamente se passasse no vestibular”.

Os estudantes estão ainda no local, onde já montam um acampamento-vigília que deve durar todo o fim-de-semana. O objetivo é permanecer no campus e conversar com toda a comunidade acadêmica e com os alunos que chegam para as aulas de sábado. As atividades que estavam previstas para a ocupação – reuniões, atividades culturais, confecção de cartazes, etc. – não foram canceladas e serão realizadas agora no acampamento.

A comunidade, que via a PM mantendo um bloqueio em frente à reitoria mesmo depois da retirada da Tropa de choque, não conseguia acreditar na ousadia da reitoria de permitir uma ação como essa. O fato gerou, em pleno sábado, um grande sentimento de repúdio. Alguns vizinhos chegaram mesmo a conversar com os estudantes, perguntando sobre o que estava ocorrendo.

Talvez a reitora Mara tenha dado um grande “tiro no pé”. O sentimento comum entre todos os ativistas é de que a PUC não será mais a mesma depois desta ocupação. O movimento já fala em saída da reitora.

Mesmo no sábado, os estudantes que estão em frente ao campus passam nas salas, conversam com os colegas, tentando paralisar as aulas. Na próxima segunda-feira, 12, muita coisa pode ser esperada. Um grande ato, com horário ainda a ser definido, vai ser realizado, junto com uma assembléia que decidirá os rumos do movimento da PUC.

A tarefa que o movimento estudantil da PUC deve tomar para si neste momento – com a grande demonstração de força que vem dando – é a incorporação de mais esta reivindicação: a derrubada desta reitoria que reprime estudantes e desmonta a universidade de forma arbitrária com o chamado Redesenho. Se for necessário, que seja construída uma grande greve.

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