Mais que uma comemoração ou uma recordação pontual, debater sobre os 20 anos de gratuidade da UEM significa irradiar um importante e atual debate: a manutenção do ensino público e gratuito.
Por isso, é preciso resgatar a história dessa instituição e compreender que sua qualidade e seu reconhecimento são resultados de uma incessante e decisiva luta da comunidade acadêmica.
Foi no ano de 1969, com a incorporação de três IES: a Faculdade de Ciências Econômicas, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que seria fundada a Universidade Estadual de Maringá.
De lá pra cá, muitas transformações iriam acontecer nessa instituição que se tornou uma das melhores universidades do País. Não há dúvidas que a mobilização mais simbólica ocorrida na UEM circunda na luta pela gratuidade do Ensino, arquitetada pelos estudantes no calor das lutas protagonizadas durante os anos 80.
Falar da década de 80 significa vislumbrar um período de forte efervescência social e política, na qual a juventude e os trabalhadores realizaram inúmeras greves e manifestações. Além de lutarem pela redemocratização do país, as ambições estavam na meta incessante de transformar o País e constituir movimentos e entidades que pudessem ecoar os anseios dos explorados e oprimidos.
Na UEM isso não era diferente. Em 1980, seria fundado o Diretório Central dos Estudantes (DCE), entidade máxima de representação discente, que tinha como objetivo mobilizar e organizar os estudantes da UEM. As primeiras gestões que passariam pelo DCE enfrentariam inúmeros dilemas e travariam várias batalhas, como a luta contra os aumentos das taxas, a luta pelas eleições diretas para reitor e pelo fim da cobrança de “mensalidades”. Isso mesmo! A UEM, apesar de pública, mantinha uma contradição: emitir um boleto de pagamento.
No clima das várias reuniões, assembléias, atos e mobilizações, em 1984 os estudantes da UEM, organizados pelo DCE (Gestão - Próximos Passos), ocupariam o prédio da reitoria exigindo a efetiva gratuidade do ensino superior. A ocupação da reitoria causaria uma forte e contundente repercussão em todo o estado do Paraná. Visionários? Rebeldes sem causa? Excêntricos? Nada disso. A palavra mais correta seria: realistas, pois o que esses estudantes estavam buscando era um direito supremo e indispensável. Não é a toa que receberiam de imediato a solidariedade dos professores e servidores.
A magnitude desse radical e corajoso ato dos acadêmicos da UEM foi tão memorável e transcendente que as mobilizações da UEM abririam caminho para promover uma profunda mudança em todas as IES do Paraná: a efetivação da gratuidade do ensino pelo Governo Estadual no ano de 1988.
É preciso recordar e comemorar os 20 anos de gratuidade da UEM com o mesmo espírito que amparou esses jovens abnegados e carregados de determinação e ousadia. Conscientemente ou não, eles advertiriam uma máxima para a comunidade acadêmica: a necessidade de permanecermos em vigilância e mobilizados, pois sem isso a educação corre perigo.
As palavras de ordens, as canções e as frases desses lutadores continuam ecoando com muita intensidade ainda hoje! A prova maior está na reorganização do Movimento Estudantil em todo o País.
Na eminência de aprovar dois projetos que prejudicam enormemente a educação pública (a Reforma Universitária e o Reuni), que visam a privatizar as IES públicas e transformá-las em verdadeiros “escolões” de 3º grau, os estudantes de todo o País resgataram os métodos utilizados pelos colegas da “década de 80”.
Inúmeros debates, calouradas, atos, marchas à Brasília e ocupações de reitorias demonstraram o potencial e o ânimo dos estudantes em defenderem a educação pública, mesmo com o desamparo da UNE (União Nacional dos Estudantes), que está completamente atrelada ao governo.
Pode ser que algumas das bandeiras se modificaram ou a cara da juventude não é mais a mesma, mas não podemos nos esquecer do nobre ensinamento dos acadêmicos que realizaram essa crucial campanha que trouxe reflexos para as nossas vidas.
Hoje a melhor homenagem que podemos prestar a eles é mantermos firmes nossos ideais e métodos de luta, construindo um novo Movimento Estudantil.
Para terminar, concluímos com uma canção do Movimento que protagonizou a luta pela Gratuidade do Ensino. A canção foi uma adaptação da música “Saudosa Maloca”, de Adoniran Barbosa:
“Bacana moçada / moçada querida / que um dia se uniu / para o resto da vida / joga o reitor pra lá / meu bem / UEM, UEM, UEM.”
Que a moçada continue unida, afinal vale a pena lutar...
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